Gangster Love - Capítulo 30 - It can't be any worse

Eu disse que não é justo como você se aproveita do fato de que eu... te amo além da razão, e isso não está certo, e eu odeio o quanto eu te amo garoto. Eu não suporto o quanto eu preciso de você.

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Mal podia sentir o ar passando pelos meus pulmões quando sai correndo da quadra em direção ao carro do Chris que era um dos únicos que restavam no estacionamento. Ele não estava entendendo nada mas também não protestou quando eu pedi aos berros pra que ele saísse dali o mais rápido possível.

Já tinha secado todas as lágrimas quando ele finalmente parou em uma pracinha há algumas quadras da escola, durante todo o caminho ele não tinha dito nenhuma palavra, no fundo ele me conhecia melhor do que muita gente por ai, ele sabia que eu não poderia falar no estado em que me encontrava naquele momento.

O nariz dele estava horrível e eu me sentia uma estúpida.

Era como se um peso maior do que eu possa surportar tivesse caído sobre os meus ombros e eu não pudesse fazer nada para tira-lo dali. Era um fato consumado e não tinha como voltar atrás.

“ Você não quer ter o mesmo fim que o seu professor, quer?”

Aquelas palavras rondavam a minha cabeça me deixando quase maluca.  Não é possível que ele seria tão baixo a ponto de fazer isso, como ele teve coragem? Cara matar uma pessoa por que levou um fora? Fala sério, ele é um filho da puta do caralho. Parecia que todo o amor que eu sentia por ele tinha se transformado em ódio, em nojo, rancor, desprezo.

Bati a porta do carro depois de descer e comecei a andar meio cambaleando em direção ao banco mais próximo.

Logo senti o braço quente de Chris entrelaçando minha cintura com a leveza que só ele tem. 

- Você está bem? – disse ele certificando-se de não me soltar quando nos sentamos – Aquele garoto é um babaca.

- Eu sei. – concordei em um lento e controlado suspiro – Parece que eu tenho imã pra esse tipo de cara.

- Isso não é verdade, está se esquecendo de mim? – ele conseguiu me fazer dar uma risada ao me fitar com aqueles olhos meio verdes que também me lembravam mel.

- Não sei não – ri, pousando minha mão em sua perna – Nós dois fomos só um lance sabe, nada saudável.

- Eu sou a coisa mais saudável do mundo. – protestou.

- Cala a boca! – resmunguei rindo, no fundo eu só queria continuar em silêncio, sem falar com ninguém.

Me deitei no banco e escorei minha cabeça no colo dele, ele me fazia carinho de forma doce, me lembrava muito o Chaz. Aliás estou com saudades daquele retardado, não nos vemos desde aquele dia. Se eu pudesse escolher de quem gostar de verdade – coisa que eu não posso – eu escolheria gostar de alguém como o Chaz ou o Chris. Eles são bonitos, legais e menos canalha que muita gente por ai. Eles não são nem santinhos nem diabinhos. Meio termo.

- Não gosto de te ver chorando por causa de homem! – Chris afagava meu cabelo com tanta delicadeza que eu estava ficando sonolenta.

- Homem? – forcei um sorriso – Que homem?

Ele gargalhou se remexendo um pouco.

- Boa, boa.

- Não foi uma piada. – afirmei, me levantando novamente sem tirar os olhos dele – Eu só estou relatando uma verdade verdadeira.

- O que ele fez? Por que vocês brigaram? – Chris estava confuso e ao mesmo tempo curioso, ele não conseguia nem disfarçar o quanto estava feliz por aquilo, não importa o motivo – Vocês pareciam tão apaixonados aquele dia.

- Não sabe diferenciar um “Eu quero te matar” de um “É verdade, nós estamos muito felizes juntos?”.

- Como assim?

- Ele estava zoando com a minha cara aquele dia, na verdade com a sua.

- O que?

- Chris era só com o Charles que eu iria sair aquele dia, só que ai ele apareceu e estragou tudo, inclusive a minha noite.

- Nossa! – ele parecia não saber o que dizer, mas uma pontinha de alívio se misturava a um pequeno sorriso.

Suspirei.

- Pois é. Ele é um idiota.

- Mas então, vocês nunca tiveram nada?

- É complicado – fitei o chão.

- Como assim? – ele insistiu, olhando pra mim.

- Eu não sei se posso te contar, vai por mim, não é nada simples.

- O que? – ele parecia incrédulo – Então não confia em mim? Tá legal.

- Não tem nada a ver com confiança, é só que...

- Eu só o seu ex peguete, não foi nada saudável não é? Beleza Jessica, eu realmente não vou te obrigar a me contar nada, até por que eu não faço o tipo que fica ouvindo uma garota falar sobre outro cara, ainda mais outro cara que faz ela chorar, que pega ela com força, quase machuca e que ainda fica fazendo graça, mentindo, dizendo que está junto e que...

- Christian o Justin é um Gangster! – falei de uma vez só para que ele parasse de falar tanta merda, minha cabeça já estava doendo o suficiente.

Ele não falou nada, tinha se transformado numa estátua.

- Eu sei, eu sei, isso é louco mas... – voltei a encará-lo, o olhar de Chris parecia de vidro, como se ele não conseguisse mais me ver.

Balançava a cabeça várias vezes e piscava mais outras.

- Vai dizer alguma coisa ou eu vou ter que morrer de agonia?

- Isso não...

- Sim, isso é possível.

- Mas Jessie, ele...

- Ele deve ter subornado alguém para conseguir um diploma em educação física, ou ter dito que já está na faculdade, que precisa de um estágio, e como isso veio em boa hora já que o professor morreu, ele se aproveitou sabe.

- Por que ele está fazendo isso?

- Ele está com raiva por que eu não quis mais ficar com ele, se você soubesse como essa história é complexa.

- Eu tenho todo o tempo do mundo – ele disse, ainda chocado porém igualmente curioso para ouvir o que eu tinha a dizer.

- Ah, tudo começou a duas semanas atrás quando a Courtney contou pra diretora dos nossos pegas no vestiário, minha mãe me obrigou a ir pra casa da minha vó durante o Spring Break, é claro que eu fiquei puta da vida, e isso foi no mesmo dia que eu conheci o Justin, em uma boate no Brooklyn, eu não sabia que ele era um Gangster, eu juro.

- Tá, mas o que aconteceu?

- Nós demos uns amassos em um escritório que tinha lá, ele me deu o número dele e disse que se eu quisesse ir pro Canadá com ele era só dar uma ligada, eu sei que parece loucura, só mais tarde fiquei sabendo que na verdade ele só me chamou pra ir por que... – contei toda a história pra ele.

E em um suspiro ele tentou abrir bem os olhos para conseguir me ver.

- Puta que pariu!

- É, eu sei – fitei o chão novamente – Tem noção de como eu estou me sentindo agora? Além de ter um gangster na minha escola a minha irmã está grávida, meu irmão viciado em sexo e o meu pai achando que a família dele é a pior do mundo, e com razão.

- Ainda não consigo imaginar você com uma arma na mão assaltando um velhinho – disse ele, dando risada.

- Eu te conto tudo isso e você está tentando imaginar uma coisa dessas? – dei um soco no ombro dele conseguindo rir também – Que coisa hein Chris!

- Foi só pra descontrair, eu estou assustado! – ele riu.

Ficamos em silêncio por algum tempo.

- Você tem uma arma em casa? – ele se afastou – Ou aqui?

- Não Chris! – disse séria e meio assustada – E mesmo que tivesse, não é você quem eu quero matar hoje.

- Vou me lembrar disso amanhã.

- Para de ser idiota! – voltei a dar um soco no seu braço, estou começando a desconfiar que não dói nada por que ninguém nunca parece ao menos sentir.

Mais alguns minutos de silêncio.

- Eu estava pensando...

- Eu sei que o você estava pensando – eu disse, suspirando.

Chris me olhou fixamente como se pedisse pra que eu lhe dissesse que ele estava enganado mesmo que no fundo estivesse mais certo do que nunca. Uma hora ou outra ele pensaria nisso, é inevitável juntar os fatos. Eu só não tinha certeza se conseguia dizer em voz alta.

- E você acha que?

- Eu não sei. – fitei o chão, procurando por ar.

- Por que se você sabe de alguma coisa você precisa contar para a diretora, isso é um crime Jessie, é do nosso professor que estamos falando.

- Desculpa, eu não posso fazer isso.

- Mas Jessie, eu não acredito que...

- Para Chris, não me pede uma coisa dessas, não faz isso!

De repente me vi o abraçando com força, ele logo retribuiu ao abraço, se calando por alguns segundos antes de voltar ao seu discurso torturante.

- Ele não pode matar uma pessoa e sair impune.

- Eu gosto dele caramba! – aquelas palavras doíam mais em mim do que em qualquer outra pessoa – Eu o amo com todas as minhas forças.

- Você só pode estar zoando com a minha cara – ele riu amargo se afastando pela segunda vez – Olha pra mim Jessica, você tem noção do que está me dizendo?

- Eu não posso controlar os meus sentimentos.

- ELE É UM BANDIDO! – gritou desacreditado.

- DISSO EU JÁ SEI! – respondi, no mesmo tom.

- Então para de falar merda! – ele bateu o pé no chão – Se você não for na diretora quem vai sou eu!

- Você prometeu Chris!

- Quando?

Como eu não tinha nada a dizer me levantei do banco e comecei a andar em direção a rua, queria pegar um táxi e ir pra casa. Não estava nem ai pros meus materiais que tinham ficado na sala de aula.

- Aonde você vai? – Chris estava bem atrás de mim enquanto eu acenava para o próximo táxi.

- Eu tenho que levar a Julie no médico.

- Mas...

- Estou atrasada Chris!

- Você nunca vai me perdoar, não é? – ao olhar em seus olhos tudo que eu via era um verde completamente sem vida.

- Só não me pergunta mais por que eu não confio em você. – eu disse, abrindo a porta do táxi e me jogando no assento sem ao menos voltar a encará-lo.

♂

Julie já estava pronta quando eu cheguei, ela estava mais feliz, na verdade desde que voltei do Canadá era a primeira vez que a via daquele jeito. Para não estragar aquele sorriso fingi o máximo que pude o quanto eu estava bem. Bem mal, né.

Tomei um banho relaxado sem me importar com o horário da consulta. Hoje nós íamos saber muitas coisas sobre a gravidez dela, é a primeira de muitas idas ao consultório.

- Cadê o Kevin? – perguntei ajeitando a minha franja quando cheguei na sala onde Julie estava entretida assistindo tevê.

- Não sei. – respondeu, sem se quer olhar pra mim.

Bufei um pouco irritada e subi as escadas de novo, direto pro quarto daquele idiota que eu nem via mais na escola. É como se ele tivesse fugindo de mim. Tentei abrir a porta mas ela estava trancada, fiquei muito bolada cara.

- KEVIN ABRE ESSA PORRA AQUI AGORA! – tinha que encontrar uma forma de extravasar toda a minha raiva e aquela me parecia a melhor maneira de conseguir isso.

Não é brincadeira não, ele demorou uns quatro minutos pra abrir.

- Que foi?

- Veste uma camisa por que nós vamos sair.

- Pra onde?

- Ginecológista Obstreta.

O garoto arregalou os olhos de um jeito que até eu fiquei assustada, mas de repente dei uma risada como se estivesse aliviando a tensão.

- Não, não é pra você – controlei o riso – É a Julie.

- Então por que eu tenho que ir?

- Qual é Kevin, nós dois sabemos o que você estava fazendo.

Dei uma piscadinha e sai.

Fiquei assistindo tevê com a Julie até ele voltar, com uma cara de emburrado daquelas, parecia até uma criancinha.

O motorista particular já estava pronto pra nos levar e durante o caminho não conversamos sobre nada, e isso era estranho por que sempre que estávamos juntos nós ríamos até a barriga doer.

Percebi uma tensão entre a Julie e o Kevin, como se eles tivessem brigado ou algo assim, ultimamente eu não os vi trocando quase nenhuma palavra e quando vi eram de mal humor, um dando patada no outro.

Logo eles, que sempre foram tão próximos.

Quando chegamos no consultório a secretária ficou brava por causa da demora mas eu estava pagando então ela tinha que calar a boca. Além do mais o idiota do Kevin estava dando em cima dela, e a mulher ainda deu bola. Porra ela devia ter uns trinta anos, vai se foder.

O Doutor achou que eu que era grávida mas eu fiz o sinal da cruz para repreender aquelas palavras. Deus me livre de uma coisa dessas! Julie já tinha feito alguns exames então agora ele só ia olhar e ver no que dava. Kevin ficou sentado na outra cadeira e o médico ainda perguntou se ele era o pai, ele quase se engasgou de indignação mesmo não estando bebendo nada.

O médico se desculpou quando eu contei a ele, que eles eram irmãos.

- Ela está com quatro meses mas é muito magrinha só vai começar a aparecer a barriga de forma visível quando estiver de seis meses mais ou menos, eu mesmo diria que ela apenas engordou se a conhecesse.

- Quatro meses Julie? – a olhei incrédula – Quando estava pensando em nos contar sobre isso?

Ela não disse nada, e o médico voltou a falar.

- Não conseguimos ver o sexo do bebê mas acredito que em um mês isso será possível, eu vou receitar alguns antibióticos pro caso de ela sentir algum tipo de dor, isso é perfeitamente normal, como ela é muito nova a gravidez é de risco até por que ela mal formou o corpo.

- Não vai acontecer nada com ela, não é?

- Não. – ele garantiu me deixando mais aliviada – Só que ela não vai poder ter parto normal, mas sobre isso vamos falar depois.

- Certo.

- Me diga Julie, quando foi sua primeira menstruação?

- Doze anos. – respondeu, meio envergonhada.

- E quando teve relações sexuais pela primeira vez?

Para ele era apenas uma pergunta normal, porém para ela era uma bomba que ela não conseguia suportar. Ainda mais com o Kevin e eu a encarando ansiosos por sua resposta.

- Há quatro meses e meio. – disse ela por fim olhando unicamente para o homem de cabelos grisalhos a sua frente.

- Ótimo, pode me dizer quem é o pai?

- Não. – disse ela, baixinho.

- Por que não Julie? – grunhi, irritada – Nós temos o direito de saber, porra isso não está certo.

- Eu não quero falar sobre isso.

- Tudo bem. – o médico analisou novamente os exames – Só pense bem antes de privá-lo de saber disso.

- Por que?

Ele parou o que estava fazendo, tirou os óculos e encarou.

- Você gostaria que te escondessem um filho?

Julie não respondeu, mas ela tinha mudado de expressão, parecia estar se controlando para não chorar ali mesmo.

- Ju, me conta, por favor – pedi baixinho perto do seu ouvido.

- Eu não posso Jessie, eu não posso. – era tudo que ela repetia.

- Por que não? – questionei, abraçando-a apertado.

- Você nunca vai me perdoar, você vai sentir nojo de mim, eu não... eu não quero falar maninha, por favor não insiste!

- Eu nunca vou sentir nojo de você Julie! – não conseguia entender por que ela tinha dito aquilo, senti o meu corpo inteiro tremer – Você sabe que pode confiar em mim.

- Mas...

- Eu não vou te julgar, eu juro.

- Será que você não percebeu que ela não quer falar porra? – a voz estridente de Kevin realmente me assustou.

- Achei que você também queria saber. – indaguei brava olhando pra ele por sobre o ombro da Julie.

E só naquele instante eu percebi que na verdade eu era a única otária que ainda não sabia quem era o pai da minha irmã de apenas quatorze anos.

+120 comentários

OMFG, o que estão achando? os próximos capítulos prometem grandes emoções, a fanfic está quase na reta final ! muhaha amo vocês <33 falem comigo (aqui)